A casa que me mudei era uma graça. Tinha algumas árvores na frente e um
quintal até bem cuidado, embora já estivesse fechada havia algum tempo.
Estava recomeçando minha vida, somente eu e minha filha de quatro aninhos. Após
sete anos de uma casamento fracassado e estressante. Fiquei realmente triste,
mas estava feliz com a nova possibilidade de recomeçar. Tinha condições
financeiras para nos manter sem necessitar de ajuda de ninguém. Nem mesmo do
imprestável do meu marido.
A casa era recuada, havendo um jardim na frente. Uma grande sala, um pequeno
quarto, banheiro e um outro quarto grande com suíte. Logicamente possuía cozinha
e uma porta dos fundos que dava para um minúsculo pátio e uma pequena lavanderia
que podia colocar máquina de lavar e todos os apetrechos de limpeza e tudo o
mais. E ao lado da lavanderia havia uma escada que chegava em cima da lavanderia
onde poderia pendurar mais roupas se quisesse. E por dentro da casa, havia um
andar de cima em que possuía uma saleta conjugada com um banheiro, mais um
quarto e um corredor que dava para uma grande varanda que pegava toda a extensão
da casa. Inclusive passando por cima da garagem o que aumentava ainda mais a
varanda.
Me sentia bem a vontade na nova casa. Instalei minha filhinha no quarto pequeno
ao lado do meu que possuía uma suíte. E após alguns dias. Em uma noite bem fria,
acordei sobressaltada porque alguma coisa puxou com violência meus dois
edredons. Ouvi também um grande murro na madeira do armário embutido. Mas a
vontade de ver se minha filhinha estava bem era maior que o medo e corri para
seu quarto para ver se estava tudo bem. Graças a Deus, estava dormindo feito um
anjo.
Dormi com o abajur ligado e no dia seguinte fiquei pensando o que poderia ter
feito aquilo...... fui levar minha filha para nova creche e fui tratar de
resolver o meu dia.
Passados alguns dias, estava na sala com minha filhinha, estava fazendo uns
recortes na revista e vendo televisão com ela. Quando ouvi passos no andar de
cima. Liguei a luz da escada e fui até lá em cima e quando estava chegando na
saleta eu ouvi barulho de coisa caindo no banheiro e água na pia como se
estivesse com a pia cheia e alguém estivesse molhando o rosto. Fui lentamente
até lá, peguei uma vassoura que estava na saleta e me encaminhei para o
banheiro, a porta estava meio aberta e escuro. Empurrei o resto da porta com a
vassoura e fiquei esperando, cheguei mais perto e com a ponta dos dedos enfiei a
mão até o interruptor. A pia estava seca, assim como o resto do banheiro e não
havia nada caído no chão. Depois fui percorrer o resto do segundo andar da casa
e quando saí da varanda, eu ouvi um risada meio abafada quando estava já no
corredor. Meus pelos do corpo todo ficaram arrepiados. Tratei de apressar o
passo e fui para o andar de baixo para ver como estava minha filhinha. E ela
disse para mim quando cheguei na sala que como poderia estar lá em cima se
estava lá embaixo também. Fiquei sem entender e pedi para ela me explicar o que
estava dizendo. E ela disse que eu estava lá embaixo e viu barulho na cozinha de
colher batendo no copo e barulho de louça na pia. E depois quando estava vendo
televisão de costas para a porta da cozinha viu alguém correndo da cozinha para
o quarto e pensava que era eu. Logo depois disso eu tinha acabado de descer as
escadas e ela ficou confusa.
Abracei ela e tentei não demonstrar medo. Tentei agir com naturalidade e disse
que podia ser o vento. Ela continuou a ver televisão. E eu fiquei pensativa.
Os dias se passaram e um belo dia, estava sozinha, tinha deixado minha filhinha
com a avó. E estava estacionando o carro na garagem após abrir o portão e ligar
a lâmpada da garagem. Esta garagem era escura e abafada, parecia um mausoléu e a
lâmpada que havia no teto da garagem era fraca, dando um ar ainda maior de
mausoléu. Estava ainda acabando de colocar o carro até o final da garagem com
cuidado para não bater em umas caixas de papelão que havia deixado lá, quando
meu coração quase saiu pela boca ao virar a cabeça para a direita e olhar no
outro lado do vidro do carro e do lado de fora. O rosto de uma mulher grudado no
vidro do carro e olhando para dentro fixamente para mim. O susto foi tão grande
que acabei por deixar morrer o carro e ele deu aquele solavanco e minha cabeça
foi para frente e para trás olhei para o painel e quando olhei novamente para a
direita, a mulher havia sumido. Fiquei ali quase que petrificada e a lâmpada
fraca da garagem dava um ar ainda mais sinistro a cena. Esperei me recuperar
porque as minhas pernas não obedeciam estavam sem força e ainda estava ofegante
como se tivesse corrido quilômetros.
Quando fui colocar a chave na fechadura para abrir a porta da casa. A porta não
abria de jeito nenhum. Fiquei tentando e tentando e depois fechava e abria a
fechadura pensando até que poderia ser algum problema na fechadura mas não
conseguia abrir. Fiquei forçando mais um pouco com os ombros. Coloquei toda
minha força do mundo e empurrei até que finalmente ela cedeu. Entrei em casa e
verifiquei que estava tudo certo. Naquela noite fui dormir depois de fazer um
chá e tomar uns três copos de água com açúcar para relaxar.
Passados alguns dias, estava vendo desenho animado com minha filhinha e o lustre
começou a balançar sozinho, primeiro lentamente, depois mais forte e fiquei
olhando aquilo. Vi que a janela estava fechada e não havia corrente de ar.
Alguns minutos depois, as luzes da casa ficaram piscando muito tempo e depois
pararam. Desliguei a televisão logo quando começou para não queimar o aparelho.
Ouvi então algo sendo arrastado no andar de cima e alguma coisa grande e abafada
caindo e depois sendo arrastada. Minha filhinha também ouviu mas eu disse que
era o vizinho e tratei de colocar ela para dormir.
Era de dia e tinha posto algumas coisas na máquina de lavar, mas depois coloquei
no terraço para que secassem melhor, ou seja, em cima da lavanderia tinha um
varal em que fui pendurando as peças para secar e em um momento que olhei
rapidamente para janela do quarto de cima vi alguém na janela, dentro do quarto
e que logo saiu ainda vi a cortina balançar. Entrei em casa para ver minha filha
e ela estava brincando de bonecas na sala e disse que tinha um barulho lá em
cima e tomei coragem e fui ver, mas não tinha nada.
Meu primo veio me ver e acabou dormindo lá em casa e eu bem gostei porque não
estava querendo ficar sozinha com minha filha. Ele disse que alguma coisa ficou
puxando a coberta dele a toda hora ele tinha que puxar de volta e quando foi
usar o banheiro da saleta ele disse que ouviu barulho de água, pensou até que eu
estava lá em cima, mas viu que a luz do banheiro estava desligada. E quando
estava urinando sentiu um empurrão em suas costas que fez com que acabasse
urinando no chão, espirrando fora do vaso. Acabou tentando dormir de luz acesa,
porque estava com medo. Disse que ficou ouvindo alguns barulhos durante a noite.
Daí falei tudo que também havia presenciado.
Ele acreditou em mim e ficou mais dois dias, mas preferiu dormir na sala de
baixo. Disse que viu o lustre balançar também.
Outra ocasião estava colocando o carro na garagem, havia trocado a lâmpada por
uma mais forte e vi novamente a mulher, só que dessa vez eu a vi pelo retrovisor
do carro e estava olhando através do vidro traseiro do carro. Novamente eu gelei
e fiquei ali com o carro ligado olhando para aquilo colado no vidro traseiro e
desliguei o carro e ao olhar novamente, ela já não estava mais lá.
Acordei no meio da noite com o barulho da cortina do box correndo pelo trilho,
aquele barulho característico de quando você acaba um banho e corre a cortina do
box e o barulho era de vai e vem, fechando e abrindo. Desta vez, quando estava
chegando no banheiro para observar melhor, levei um golpe na cabeça não sei do
que. Mas fiquei atordoada e fui para o quarto da minha filhinha e fiquei lá por
mais um tempo, já tinha amanhecido e já estava quase na hora de fazer o seu café
com leite e de levá-la para creche.
Tentava na maior parte das vezes me manter calma. Ainda mais que estava
conquistando minha independência, meu espaço e então não queria ficar alardeando
meus problemas, dando uma de garota mimada ou então viriam com aquele papo de
que era tudo impressão minha e que eu estava vindo de um casamento desfeito e
que era tudo imaginação porque ainda estava sob o efeito do estresse. Aqueles
papos ridículos que algumas pessoas que não dão crédito para nada e que acham
mais cômodo dizer que tudo não passa de sua imaginação e as vezes achando melhor
dizer logo que você está ficando louca ou louco. Porque é mais prático.
Mas se realmente estivesse ficando louca: então porque meu primo observou e
vivenciou fenômenos sobrenaturais a ponto de preferir dormir na sala de baixo?
Ou a minha amiga do tempo do colegial que veio conhecer minha casa nova e como
morava agora em outro Estado, passou alguns dias comigo sem eu (pelo menos no
início) ter falado nada. A coitada disse que acordou com alguém chorando e
pensou que fosse eu. Então resolveu ir lá embaixo. Ao chegar na sala, ouviu
barulho de pratos e louças batendo e talheres, então viu luz na cozinha e
escancarou a porta e viu tudo arrumadinho, então, abriu a porta dos fundos (que
dava para o pequeno pátio e a lavanderia), pensando que eu então estivesse lá e
ao chegar na lavanderia ela disse que alguém arrotou na cara dela e a luz da
lavanderia queimou. Ela saiu dali rapidamente e ao passar de volta na cozinha,
indo para a sala as portas dos armários abriram e jogaram nela um vidro de
biscoitos, um pote de café que esparramou todo na cozinha, guardanapos, travessa
de alumínio, sucrilhos, xícaras, vasilhas, etc ... acordei com o barulho e com
ela apavorada em cima da minha cama dizendo o que havia acontecido (foi só aí
que falei com ela sobre o que já havia presenciado). Ela também disse que a
cortina do banheiro foi puxada com violência quando tomava banho e ela virou
para trás e não tinha ninguém. Também ouviu o barulho de coisa caindo e sendo
arrastada várias vezes pelo chão no andar de cima. Ouviu também uma risada
abafada e nós duas ouvimos e sentimos um murro na mesa da cozinha enquanto
tomávamos café. Foi tão grande que as xícaras pularam. E minha filha também,
será que estava ficando louca? Como? Se não havia falado nada com ela e eu era a
primeira a tentar desviar sua atenção para o que acontecia, pois ainda era
pequenininha demais e já participando de tantos fenômenos em sua vida ?
Na festinha de aniversário de 5 anos de minha filha, convidei alguns parentes e
amigos. Uma amiga minha veio falar comigo que quando estava subindo a escada
algo puxou sua cabeça e ela bateu com a cabeça na parede. Um grande amigo do meu
ex-marido estava lá também e disse que viu um vulto cruzar a sala e sair para o
quintal. E a minha outra amiga disse que foi usar o banheiro e quando estava
sentada no vaso, o esguicho do bidê espirrou água, chegando a bater no teto e
molhar ela. Ficou tentando controlar o esguicho com as mãos inutilmente (não
havia contado nada para essas pessoas também). Então somos todos loucos? E
porquê na casa que moro hoje, não acontece nenhum fenômeno sequer?
Maitê - Rio de Janeiro - RJ
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